DEZ ATENDIMENTOS DE FISIOTERAPIA SÃO O SUFICIENTE?
- PHYSIOLAB

- 19 de mai.
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O número de atendimentos fisioterapêuticos necessários para o tratamento é uma pergunta comum no dia da avaliação fisioterapêutica. E eu te pergunto, como vamos ter certeza da resposta? Afinal, tem como saber exatamente essa quantidade?
Infelizmente não temos como saber COM CERTEZA quantos atendimentos serão necessários em um tratamento fisioterapêutico. O que podemos fazer é uma avaliação extremamente detalhada para que o caso seja elucidado e direcionado da melhor forma.
Alguns casos pós cirúrgicos ou pós lesões agudas tem sim um prazo para a melhora do caso clínico, porém se a melhora vai mesmo acontecer, irá depender de outro fator: A aprendizagem motora.
A aprendizagem motora está ligada ao fato de aprendermos algo do zero ou reaprendermos algo que não estamos mais aptos a realizar. Ou seja, no processo de reabilitação o fisioterapeuta deve sempre se questionar: “o movimento que o paciente quer fazer, ele já fazia ou é algo novo?” Por exemplo: “eu quero conseguir amarrar meu cabelo” “eu quero voltar a fazer handstand walk” “eu quero correr 20km mas eu sempre corri 10km”. Dependendo do objetivo do paciente e das memórias neuro motoras prévias, será proposto o tratamento.
Além disso, nós profissionais precisamos nos questionar: “a parte sensorial e motora estão realmente preservadas após a lesão?” Pois ambos os sistemas são necessários para reaprendizado ou aprendizado de algum movimento novo. Na figura 1 podemos observar que antes de realizar o movimento de pegar o copo de água, o sistema visual é ativado e inconscientemente, calculamos a distância do copo, a velocidade para realizar o movimento, a força necessária para realizar a preensão do copo, o movimento que será realizado. O mais legal é que tudo acontece de forma automática, não precisamos ficar pensando detalhadamente em cada fase do movimento, ela simplesmente acontece, isso porque, todo o processamento acontece no cerebelo.

Quando queremos aprender algo novo ou quando ocorre uma lesão e nosso sistema nervoso central precisa reaprender algo, usamos principalmente a região cortical. Ou seja, precisamos realizar os movimentos repetidas vezes, com atenção para que o aprendizado aconteça.
A melhor forma de aprendermos ou reaprendermos um movimento é realizando-o por partes, por exemplo: Um atleta com canelite quer voltar a correr. Nesse caso o corredor sabe como correr, porém, toda vez que tenta realizar o movimento, sente dor, o que faz com que ele acabe parando ou diminuindo o ato de correr.
Na reabilitação de casos como esse precisamos pensar em um tempo de reabilitação que permita realizarmos as etapas da corrida: flexão de quadril (quais músculos realizam flexão de quadril? Flexão de joelho (quais músculos realizam flexão de joelho?) Flexão plantar e dorsiflexão (tem movimento isométrico envolvido?). Voltar a realizar um movimento sem dor exige muitas reflexões e estudo do profissional fisioterapeuta, precisamos pensar: “Esse paciente já fez essa atividade?” “A biomecânica prévia estava correta?” “Preciso reensinar ou começar do zero?”
A figura 2 representa o aprendizado motor, no início precisamos de repetições de forma consciente para que cognitivamente consigamos realizar o movimento com atenção e precisão. Após precisamos evoluir para movimentos com dupla tarefa, para auxiliar nosso sistema nervoso central a realizar mais de uma tarefa por vez e por fim, o movimento torna-se automático.

Nosso sistema neuro motor é complexo, por isso é difícil afirmarmos que em fez atendimentos será possível realizar a reabilitação completa de um paciente. É necessário sempre realizar reavaliações e ajustes ao tratamento, em muitos casos não são necessários nem seis atendimentos, em outros, são necessários vinte, tudo irá depender da extensão da lesão, do tempo de queixa, do estímulo que o paciente foi exposto previamente e no momento do tratamento.
Lembre-se procure profissionais que amem a fisioterapia e que levem a sério o seu tratamento!
Referências
Richard A. Magill – aprendizagem motora conceitos e aplicações 5° edição. https://www.researchgate.net/figure/The-theoretical-link-between-SRC-and-motor-learning-Through-practice-and-robust_fig1_353639352
Cherry-Allen et al 2022 Updates in Motor Learning: Implications for Physical Therapist Practice and Education Phys Ther 2022 Jan 1;102(1):pzab250. doi: 10.1093/ptj/pzab250.
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Texto escrito por:
Dra. Ana Paula Janner Zanardi
Fundadora e CFO
Fisioterapeuta pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná
Mestrado em Ciências do Movimento Humano pela UFRGS
Especialista pelo COFITTO em Fisioterapia Neurofuncional Adulto



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